Literatura
28/05/2022
BMEL
[Apresentação de livro . ESCRITA COM (N) VIDA]
“O coveiro moído do vinho que adormece regalado no seio dos finados que sepultou; o noivo largado no altar pela noiva lésbica; o casal surpreendido em casa pela visita de um touro foragido da arena; a mulher que incomoda os fiéis e o padre, na missa com o seu cantar estridente; o sapateiro que alimenta um fetiche indecoroso; o alfaiate que lê os corpos que veste como se fossem livros abertos; os barqueiros na faina contra as volubilidades do rio; os amantes que se encontram em segredo numa ermida abandonada; o poeta perdido e encontrado, a prostituta da sina desgraçada”…
Invulgares, estas e outras personagens, são, no entanto, bem portuguesas. Habitam um romance em que a paisagem assume um papel essencial, com a presença omnipresente do Tejo a influir directamente na vida de todos, com as suas fúrias e os seus períodos calmos, mas onde também o vento, o sol e as árvores assumem o seu papel no cenário dos dias dos homens e das mulheres que, contrariamente ao que vai sucedendo hoje um pouco por todo o lado, não vivem de costas voltadas para a natureza, mas antes de mãos dadas com ela. Para o bem e para o mal.