Agora que o galo já ardeu na fogueira. Aqui fica a folha de sala com informação artística sobre o espetaculo "Cantar de Galo" que este ano abrilhantou o desfile e Julgamento do Galo do Entrudo - Aqui há Galo!
JULGAMENTO E MORTE DO GALO
GUARDA FOLIA 2024
CANTAR DE GALO
Criação artística
Gambozinos e Peobardos – Grupo de Teatro da Vela
Dramaturgia e encenação
José Rui Martins
O Julgamento e Morte do Galo que ocorre na cidade da Guarda representa um dos acontecimentos mais genuínos realizados no período do Carnaval em Portugal. Sem samba, lantejoulas e imitações desapropriadas, o acontecimento tem raízes tradicionais no que se realizava há muitos anos em Pousade, tal como é digno de registo o que Cameira Serra/Pires Veiga mencionam na Revista Altitude de Agosto de 1983 como sendo uma das quadras recitadas antes da morte do galo em Valhelhas em 1909, ou seja, há 115 anos:
Este galo é malvado
É gatuno e traiçoeiro
Bate nos outros e foge
E vai cantar p'ró poleiro
Com os anos, conta quem sabe, emigrou de Pousade para o largo da Sé no ano 2001.
Manteve a narrativa e, como toda a tradição, foi -se renovando e absorvendo gradualmente novas penugens de modernidade.
A Folia continua a pugnar por ser um momento de purga dos males que afetam a humanidade, libertando-a metaforicamente das situações que a atormentam.
A sátira abraça a comicidade e a fantasia, a tolerância, o prazer e a diversão perduram desde o tempo dos Gregos que 'sacrificavam o galo a Escolápio, deus da medicina, esperando assim, segundo a fábula, curar os doentes e, até, ressuscitar os mortos'.
O antigo ritual passou a originar um espetáculo que, na essência, sustenta um guião que incide em temas e situações que, infelizmente, inundam a atualidade.
Uma orquestra substitui a concertina que, antigamente, era tocada a solo, enquanto as acusações eram proferidas.
A cenografia é implantada junto à Sé que guarda memórias e se assume majestosamente um cenário ímpar, entre os muitos dignificam a identidade da cidade. O Largo tem como nome, Luís de Camões, nosso poeta maior, sendo também motivo de celebração singela os 500 anos do seu nascimento, não fosse ele um audacioso e mordaz autor de textos teatrais e poética incomparáveis:
Não há mal que lhe não venha.
Perdigão perdeu a pena
Não há mal que lhe não venha.
(…)
Quis voar a uma alta torre,
Mas achou-se desasado;
E, vendo-se depenado,
De puro penado morre.
Se a queixumes se socorre,
Lança no fogo mais lenha:
Não há mal que lhe não venha...
Neste 'Cantar de Galo', o espaço cénico irá hospedar outros espaços arquitetónicos icónicos populares que simbolicamente evocam a riqueza patrimonial da cidade com a atividade das suas gentes.
Os Gambozinos e Peobardos - Grupo de Teatro da Vela são os sonhadores que, nesta edição, irão ser guardiões de uma memória viva, conjugando o seu empenho e dedicação às freguesias que enriquecem o desfile com o seu desempenho singular.
Afinal, é a participação comunitária que confere à criação artística um sentido de partilha genuíno e a vivência de momentos coletivos apaixonantes e sempre inigualáveis.
Em 2024, deseja-se que o público entoe o Hino do Galaró 2024, música e letra original que certificará o seu amor pela sua terra:
Termos cá um galo para julgar
Muita folia
As nossas mágoas vão minguar
A tradição
Nunca irá desaparecer
Aqui na Guarda
Carnaval é ver para querer
Não há grinaldas
Tem um paladar genuíno!
É Carnaval
P'rá menina e p'ró menino
São cinco efes
Que encantam quem cá vem
É forte e farta
Fria, fiel e formosa
São cinco efes
Que encantam quem cá vem
Gente rochosa
Com orgulho no que tem
Aqui o samba
Sabe a queijo da serra
Viva a Folia!
Com um bom tinto e uma morcela
Um hino à paz
Torna o Carnaval mais nobre
E o julgamento
Culpa o algoz, protege o pobre
Faz meio século
Dum Abril que é unidade
E o Carnaval
É também fraternidade
São cinco efes
Que encantam quem cá vem
É forte e farta
Fria, fiel e formosa
São cinco efes
Que encantam quem cá vem
Gente rochosa
Com orgulho no que tem