Município da Guarda

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Conferência “A Europa de Montaigne” por Clara Rocha na BMEL

Cultura
26/09/2019
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No âmbito do Ciclo de Conferências Internacionais A Europa dos Escritores, a Câmara da Guarda, através da Biblioteca Municipal Eduardo Lourenço, e a Comissão Executiva da Candidatura da Guarda a Capital Europeia da Cultura 2027 organizam no próximo dia 11 de outubro, às 17h30, a conferência “A Europa de Montaigne, pela professora catedrática da Universidade Nova de Lisboa, Clara Rocha.

“Da torre redonda do seu castelo, onde a partir de 1571 se refugia para se entregar ao prazer da leitura e da me­ditação, longe dos reveses sangrentos duma França di­lacerada pelas guerras de religião, Montaigne observa o andamento do mundo e dá forma às suas ideias numa obra redigida ao longo de duas décadas, que o situa no limiar da modernidade e faz dele um dos grandes espí­ritos da cultura do Ocidente. Numa Europa em profunda mudança, o autor dos Ensaios critica, em vários passos da sua obra, os dogmatismos e as lutas fratricidas entre católicos e protestantes.

O seu pensamento livre leva-o também a confrontar, no famoso capítulo sobre “Os canibais”, diferentes perspec­tivas de “barbárie”. Pondo em causa o etnocentrismo eu­ropeu, Montaigne cruza o olhar dos povos “civilizados” sobre o Novo Mundo recém-descoberto e o olhar dos “bárbaros” em relação aos europeus. A suas descrições dos índios do Brasil, ao mesmo tempo que surpreendem pela vivacidade e pela atenção ao pormenor, formulam de modo incisivo a questão: as guerras de religião não serão tão ou mais bárbaras do que os costumes dos ín­dios?

Por último, o Journal de Voyage de Montaigne é um ex­traordinário documento sobre a Europa de Quinhentos: nele se registam as etapas de uma viagem a Itália, pas­sando pela Suíça e pela Alemanha, que o autor empreen­deu entre 1580 e 1581. Estas páginas de diário dão conta de uma atenção ao “outro” que grava, em todos os seus pormenores, a paisagem física e humana dos lugares per­corridos. A viagem representa para Montaigne o confron­to do eu com o espelho do mundo, e por isso a celebra como forma de descobrir a diversidade da natureza e como verdadeira lição para o espírito.”

Clara Rocha tem dedicado a sua atividade académica ao estudo da Literatura Portuguesa do século XX. Da sua obra ensaística destacam-se os seguintes livros: O Espaço Autobiográfico em Miguel Torga (1977), Os “Contos Exemplares” de Sophia de Mello Breyner (1978), Revistas Literárias do Século XX em Portugal (1985), O Essencial sobre Mário de Sá-Carneiro (1985; 2ª ed. revista e aumentada, 2017), Máscaras de Narciso. Estudos sobre a Literatura Autobiográfica em Portugal (1992), Miguel Torga – Fotobiografia (2000; 2ª ed., 2018), O Cachimbo de António Nobre e Outros Ensaios (2003, Prémio de Ensaio do PEN Clube e Grande Prémio de Ensaio da A.P.E.) e O Essencial sobre Michel de Montaigne (2015, Prémio Jacinto do Prado Coelho). Tem colaborado com artigos de crítica literária em revistas e jornais, dicionários de Literatura e volumes científicos internacionais. Foi professora convidada na Sorbonne em 2004. Coorganizou o livro Literatura e Cidadania no Século XX (INCM, 2011). Em 2011, a convite da Fundação Calouste Gulbenkian, organizou a antologia A Caneta que Escreve e a que Prescreve, com a colaboração de Teresa Jorge Ferreira.

Imagem: Conferência “A Europa de Montaigne” por Clara Rocha na BMEL